Porque não precisamos aceitar 'migalhas' emocionais.

Devemos começar a aprender mais sobre o reconhecimento do nosso próprio valor, recuperar a nossa auto-estima e com isso podemos dizer não às migalhas emocionais.  A situação de migalha emocional é quando uma pessoa se sujeita a qualquer coisa que os outros oferecem em troca de algum momento de suposto afeto e atenção, não importa o preço alto que tenha que pagar por isso. Este tipo de situação acontece em vários tipos de relacionamentos que existe (seja amoroso, familiar, de amizade, etc.) e sem levar em consideração quais são as suas reais necessidades, seja de atenção ou afeto, o que leva a quem recebe essas migalhas submeter-se emocionalmente, inclusive a relacionamentos abusivos. 

Em nossas vidas podem existir vários tipos de situações e experiências em que só é possível entendê-las de verdade e os seus significados reais quando se passa por elas e por mais absurdo que pareça, o ser humano consegue se acostumar com tudo, inclusive com o que é tão prejudicial para a sua saúde e integridade emocional e mental. 

Os motivos que levam essas pessoas, inclusive até mesmo aquelas mais inteligentes e interessantes a estarem em situações e condições tão complicadas e nocivas são inúmeros, que muitas vezes dependem muito de seu momento, de valores culturais e pessoais que agregam e também de seu histórico de vida. 

Por motivos de muita carência afetiva, essas pessoas permitem em suas vidas verdadeiras armadilhas, às vezes estão até totalmente conscientes do problema, porém não conseguem encontrar saídas mesmo que pareçam tão fáceis e óbvias. Em nome de muita necessidade de se livrar da solidão, se entregam a relacionamentos permeados de muitas humilhações, destruição da auto-estima e dor e que não percebem o quanto sofrem por algo que além de deixá-las ainda mais solitárias e carentes, não levará a nada de bom. 

Há um número imenso de pessoas vivendo desse jeito, que infelizmente não percebem que ao aceitar apenas as migalhas emocionais oferecidas, contribuem também para que a situação do relacionamento não se defina nunca de uma forma equilibrada, justa, alegre e saudável, enquanto suas carências acabam sendo acentuadas. 

O maior problema é que com o passar do tempo a pessoa até mesmo por conta da baixa auto-estima se acomoda, acreditando que é só o que merece ou que a vida é assim mesmo e que não há muito para exigir e como consequência permanece mendigando afeto, atenção, amor, sexo, amizade, gentileza, companheirismo, consideração…

Por conta deste interminável círculo vicioso, essas pessoas vítimas das migalhas emocionais alegram-se entre os intervalos de segundos de consideração e total desprezo. O que reforça essa prática destrutiva em aceitar o inaceitável, tolerar o intolerável, admitir o inadmissível e suportar o insuportável. 

Evidentemente que há muita dor silenciosa neste ato de consentir tamanha violência mental e emocional, que ao ser percebida e ao mesmo tempo sem conseguir força ou ver um caminho para sair desta situação, faz com que a angustia aumente e tome conta da vida. As mais duras mentiras confortáveis predominam, e a pessoa pacificamente vai concordando, sem na maioria das vezes sequer perceber a destruição que essa falta de amor causa.

Ao acabar vivendo nesta total ilusão de idealizar como perfeitas as pessoas que não trazem e nem merecem sua consideração ou respeito, as vítimas das migalhas emocionais não se dão conta que na busca de suprir as suas necessidades de afeto e amor, acabam investindo em relacionamentos que não as satisfazem verdadeiramente.

Portanto, essas pessoas acreditam cegamente e erroneamente que um dia a situação irá milagrosamente resolver-se em um passe de mágica ou algo fantasioso do tipo e quando percebem a realidade notam que o tempo passou, nenhuma mudança positiva ocorreu, nada foi solucionado porém a vida continua na mesma inércia e a carência cada vez maior e mais prejudicial a saúde e a vida.

Dessa forma, as pessoas que estão nesta situação acabam permanecendo com suas vidas limitadas em que a  felicidade se vai a cada dia pelos movimentos repetitivos e desesperados ao estar sempre se humilhando e rastejando por atenção e consideração quando deveriam manter-se de pé e com a cabeça erguida.

Então, para que a situação realmente possa mudar para melhor, é preciso chegar um dia em que é mais do que necessário dar um basta em receber migalhas e ficar feliz apenas por recebê-las. A melhor opção é que desde o início, se evite que permaneça ao seu lado quem não percebe a grandiosidade que há em sua pessoa. Não há possibilidade de um relacionamento unilateral ser feliz, saudável e prazeroso. 

Há vários caminhos para se tornar livre, portanto para isso, é necessário procurar saídas que sejam funcionais para quebrar de vez este padrão de maneira efetiva, clara e objetiva, focando no bem estar emocional, na felicidade e principalmente em relações reais e saudáveis em que haja reciprocidade, trocas e somas positivas. 

Entre as possíveis soluções, é importante refletir e tentar descobrir o que ainda aprisiona a pessoa a esses relacionamentos tão destrutivos e tentar buscar alternativas para poder resolver essa questão o quanto antes. Acordar para a verdade na maioria  das vezes torna-se algo muito difícil, duro e dolorido, mas evidentemente será muito compensador a longo prazo e a melhor alternativa. Pois, recomeçar é algo muito difícil no início, mas completamente possível e satisfatório.

Quando se começa a agir de maneira muito diferente e imprevisível, a maioria das pessoas envolvidas em seu cotidiano podem mudar também, seja para melhor ou simplesmente se afastarem. Mudar seus comportamentos e atitudes reconhecendo o seu valor e a sua importância permitirá de forma positiva que em sua vida a felicidade poderá vir e fazer parte dela. 

Se por acaso acontecer de ter que passar por alguns momentos só, procure ver isso de uma experiência diferente em vez de um fracasso, como aquele ditado antigo "antes só que mal acompanhada/o''. Portanto, aproveite esta oportunidade para descobrir o quanto é bom estar com você mesma/o em vez de com alguém que te faz mal. Busque descobrir o que lhe satisfaz de verdade e como é boa a sua companhia, até que seja possível buscar novas opções, alternativas, caminhos, novas pessoas e uma nova maneira mais saudável, plena, equilibrada, simétrica e feliz de relacionar. 

Com o tempo será preciso saber o que é necessário para poder descobrir quais são os mecanismos e motivos que a/o levaram para esta situação assimétrica de relacionamento, de maneira que encontre os caminhos de evitar e também de saída, principalmente para não ter de repeti-los mais em sua vida. Quando finalmente percebemos que existe o problema, entendemos que há muitos desafios e aprendizados a serem aprendidos e explorados pela frente. 

Muitas vezes as condições em nossas vidas estão muito desfavoráveis, mesmo assim fique sempre do seu lado, saiba que você pode ser também a/o amiga/o que mais precisa para si mesma/o e acredite que você não merece este tipo de “consideração” alternada entre migalhas e indiferenças, abusos emocionais, frieza, humilhações e que só prejudicam a sua saúde como um todo.

Procure buscar sempre a companhia de pessoas que lhe respeite, saibam e reconheçam o seu valor e que demonstrem que você pode contar com elas. Por isso, só permita que a sua felicidade não seja mais dependente apenas da ''boa'' vontade e dos interesses dos outros, nos quais não se importam com o seu bem estar. Este processo de auto-conhecimento e reflexão é muito difícil, dolorido e pode ser muito longo para várias pessoas, mas é extremamente necessário e possível, e caso a pessoa não consiga elaborar isso sozinha/o, com parentes ou amigas/os, a psicoterapia será uma excelente aliada e eficaz maneira de obter toda a ajuda de que precisa.