Os mitos da 'cara metade' e 'alma gêmea'.

O mito da 'cara metade' é muito prejudicial se for obsessão, muitas pessoas se sujeitam a situações infelizes para estar numa relação idealizada. Assim como o mito da 'alma gêmea' é igualmente cruel e aprisiona as pessoas. 



No momento de aproximação, pessoas costumam apresentar-se como 'deuses' perfeitos e identificando com o outro, e fazem acreditar que são incríveis, especiais e que foram 'fabricadas', 'feitas e enviadas pelos astros' perfeitamente para seu interesse amoroso, o 'crush' e faze-lo feliz. Com a convivência, os supostos “deuses” perfeitos e idealizados tendem a cair do altar em que foram colocados nos primeiros encontros do 'caso', relacionamento, etc. Depois de um tempo com a convivência, essas pessoas podem se revelar seres reais saudáveis ou “adultos infantilizados”, ''narcisistas'', ''manipuladores'', ou “fantasmas digitais”, entre demais tipos tóxicos para relacionamento à longo prazo. 

Somos deuses caídos quando nos tornamos reais. Depois, há deuses mais tóxicos que outros. Quando somos uma pessoa normal, somos um deus caído saudável, com qualidades e defeitos. Quando “endeusamos” alguém e a relação termina no estado de endeusamento e superficialidade de idealização, em que não se vê defeitos, apenas qualidades, perfeição e o deus ainda não caiu do altar, é quando fica mais difícil superar o fim do relacionamento porque ficou a imagem idealizada e fantasiosa de que seria aquela pessoa sua 'alma gêmea prometida pelo universo', ou a 'cara metade' que perdeu e que no futuro será feliz pela metade ou mesmo que feliz com outro alguém, acredita que 'sempre faltará algo'. Pura ilusão! E isso ainda pode gerar sérias dificuldades para se ter uma relação feliz, plena e saudável no futuro. 

Quanto à crença da 'cara metade', ao se tornar obsessiva, podemos nunca viver intensamente uma relação feliz e saudável, porque estaremos sempre à espera da 'tampa da panela'. A questão da cara metade é quando encontra alguém ou é ''encontrado'', ou espera encontrar, e acredita que aquela pessoa seria a 'cara metade' e, por isso, muitas pessoas se sujeitam a situações absurdas para estar numa relação que considerava perfeita no início e não se sabe como as coisas mudaram com o tempo quando o 'deus' idealizado caiu do altar e não aceitam que o parceiro que julgara 'cara metade', simplesmente se tornou real. Quando a situação se torna pior, o real pode ser alguém ruim e será preciso acordar. 

Apego às crenças 'metade da laranja' é eterna procura fantasiosa e obsessiva (estranhos se projetam num personagem ideal perfeito, 'cópia' do outro). Um estranho convence à 'cara metade/alma gêmea' serem 'feitos um para o outro', representando imagem de 'clone' em todos os sentidos, reflexo no espelho de quem acredita ser 'alma gêmea' e iguais no vestir, falar, gestos, gostos, interesses, acessando informações e dados,  etc., vai percebendo detalhes sobre o crush e cria um personagem semelhante. A cultura pop influencia isso como ''natural e espontâneo'' em séries literárias e TV estadunidense. A série Criminal Minds romantizou trama de geneticista com acesso a exames do ''paciente'' arranjado através de contatos por email ou telefone por supostamente elogiar um artigo desse ''paciente'' não se sabe onde, talvez pela internet apesar que este agente ''gênio'' odeia internet, não se sabe como este ''paciente'' enviou o exame, se foi por caixa postal ou se combinaram dele deixar o exame em algum lugar para que ela pegasse sem se encontrarem ou se ele enviou apenas o laudo do exame por fax, fotografia, etc., isso foi um mistério e tudo muito superficial. Essa geneticista trocava telefonemas misteriosos com este ''paciente'' admirador (ele não a conhecia em nada, apenas pelo primeiro nome) decidindo quais momentos ele deveria entrar em contato com ela, enquanto ela oferecia ''conselhos médicos'', motivacionais, recomendando vitaminas, boas noites de sono tudo pelo telefone. A geneticista e este ''paciente'' admirador, que era um agente do FBI e considerado ''gênio'', começaram a flertar e trocar confidências no qual pareciam ser praticamente a mesma pessoa e ela de vez em quando falava em alta velocidade ''palestrando'' até de forma bizarramente igual a ele. Com o tempo ele passou a desobedece-la ligando para ela de telefones públicos todos os dias, completamente obcecado, viciado e dependente emocionalmente a uma estranha que parecia cada vez mais ser idêntica a ele em tudo enquanto seus colegas de trabalho no FBI apoiavam esse ''phone affair'' enaltecendo o agente e a geneticista como ''deuses da genialidade''. A geneticista chegou a fazer uma declaração para o agente e um colega do agente o questionou sobre o por que ele não correspondeu à declaração de uma estranha. Este agente era um homem carente e imaturo de uns 31 anos, traumatizado e de baixa autoestima sobre a sua aparência padrão de homem alto, branco, de olhos claros, era tido como ''nerd'', traço narcísico orgulhoso de ser ''gênio'' validado por seus colegas de trabalho, era graduado em psicologia (suposto autista, esquizofrênico/borderline condições ditas vagamente na sérieele não fazia psicoterapia e negligenciava sua saúde mental) fantasiou meses pendurado a cabines de telefones públicos por incríveis, milagrosas e infinitas coincidências de ter praticamente tudo em comum com uma completa estranha. Até o ajeitar a gola da camisa no espelho era igual. O paciente não sabia do noivo da geneticista e uma treta sinistra dela com uma stalker. Deslumbrado ao atrair um ideal, 'maternal', 'genial', 'idêntica' a ele e misteriosa, o paciente fantasiou a geneticista como sua '1ª namorada', endeusando-a. Essa trama fantasiosa tornou muitas fãs da série crentes nos mitos da alma-gêmea e cara-metade. 

O mito da 'cara-metade' prejudica a relação saudável. Estar continuamente em busca e esperando a pessoa perfeita, ideal corresponde uma personalidade tóxica que pode ser denominada de “crente patológico”, seriam pessoas obcecadas pelo ideal da cara-metade e alma-gêmea, incluindo quando o relacionamento acabou (mesmo superficial por telefone, internet, cartas) na fase da idealização, fantasia e projeção quando o 'deus' especial e perfeito não saiu da fase altar, ou em conversas e encontros presenciais iniciais no qual querem fazer as mesmas coisas, falar sobre as mesmas coisas e por isso acreditam serem 'almas gêmeas' ou 'cara-metade'. Enfim, sem convivência cotidiana à longo prazo, com a pessoa 'real'. 


O mito da alma-gêmea alimenta a ideia que o amor parte de fora para dentro e que depende da metade de outra pessoa para dar totalmente certo. Ou seja, a responsabilidade pelo sucesso, ou insucesso da relação está na sorte (ou falta) de encontrar o parceiro ideal destinado 'pelos astros'. Se o crente patológico não é convicto que encontrou a 'alma gêmea', não investirá intensamente na relação com a pessoa real. Essas crenças podem ter indícios de futura relação abusiva e tóxica por parte do crente patológico, seja o que acha que ainda não encontrou a 'alma-gêmea' ou que a 'perdeu'. Ou o que acredita que encontrou, mas é rejeitado, pode desenvolver baixa-autoestima. 


Quando o crente patológico não crê está se relacionando com a alma-gêmea ou que a perdeu numa relação anterior na fase do endeusamento, o crente patológico pode agir de forma abusiva com o parceiro atual e que se tornou real com a convivência, o humilhando e colocando defeitos, o diminuindo mesmo que por pensamento. Ou quando alguém acredita que encontrou a alma-gêmea, mas  não é tão ou mais correspondido como antes e se sujeita a tudo para satisfazer o 'deus' idealizado que acredita que foi fabricado exclusivamente para si. A ideia fantasiosa da alma gêmea também hipoteca a felicidade e não vive plenamente um relacionamento saudável e feliz com uma pessoa real, em vez da imaginação do 'ideal' mais especial do mundo 'feito sob medida', entre pessoas que tão pouco se conheceram. 

 
Em psicoterapias há demanda de pessoas com personagem ainda idealizado sobre quem julgava a 'cara metade', 'alma gêmea'. Alguém que se apresentou perfeito, tampa de panela para preencher vazios, fantasias e sonhos de contos de fadas. Se ficar vidrado nessa questão, nunca viverá intensamente uma relação e não será feliz, porque estará sempre à espera do que nunca virá. Pois ao fim da fase 'endeusamento' viria a pessoa real no relacionamento (alguns finda nesta fase). Se manter obsessão e não houver superação desta fase, o crente patológico requer acompanhamento terapêutico. Pessoas saudáveis ​​querem e precisam de pessoas reais, não imaginar fantasias perfeitas ideais, 'metades' e 'gêmeas' ideais.

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