Resumindo rapidamente, o TDAH tem observação clínica desde 1798, existem pessoas com diagnostico de TDAH com mais de 70 anos atualmente, portanto não é um transtorno da "geração de telas" atual. O problema é estrutural físico no desenvolvimento do cérebro e não abstrato, na questão de não sabermos lidar com frustrações e adotar como "defesa" a distração... Alguém realmente acha que uma pessoa com TDA escolhe se distrair, ter dificuldade escolares, sociais e no relacionamento, não conseguir regular o foco, mesmo nos momentos em que a pessoa mais quer e acabar sofrendo por conta disso? Alguém com esse tipo de transtorno não só aprende a lidar com frustrações (por lidar com muitas delas em varias áreas da vida), como aprende melhor que alguns que não tem TDAH a lidar com isso.
Não é porque o autor do transtorno do déficit de atenção (nome errôneo) disse que o transtorno era algo meio que descoberto por ele, que a condição deixou de existir. O TDAH é uma questão quantitativa. Os principais problemas são: distração, baixa regulação emocional e impulsividade. Para explicar esses três, exige-se uma integração dinâmica de varias partes do cérebro, tornando tudo muito complicado de se estudar. Mesmo o TDAH sendo o transtorno mais bem conhecido da psiquiatria, ainda não existem explicações e nem cura para o transtorno. Existem sim casos chamados remissivos no TDAH, onde a pessoa na fase adulta perde parte dos sintomas, mas não existe exato um porque ainda, de certas pessoas continuarem com o transtorno ou não.
Dentro da academia, seja no ensino privado ou público, seja algumas vezes até pela 'lacração' irresponsável ou dos mais conservadores, ocorre muito um dualismo do biológico x psicológico e uma repulsa ao primeiro pelos estudantes de psicologia mal informados, principalmente por influência de alguns professores e materiais. É claro que devemos ser críticos a tudo, a indústria farmacêutica e como o ensino é apresentado e etc. mas ignorar a questão biológica é um grande erro, assim como acontecia com a depressão e outras condições mais aceitas agora.
Os argumentos de alguns ''profissionais'' sejam coaches (muitos com crp) ou outros tipos, são um desserviço primeiramente por a) Gerar a impressão de que TDAH é um transtorno inventado para se vender psicoestimulantes, sendo que o tratamento com psicoestimulantes melhoram e muito a vida de quem tem esse transtorno, fazendo com que consigam finalmente alcançar objetivos na vida. Sendo também possível tratar o transtorno sem o uso de medicamentos (cada caso é um caso), mas com psicoterapia de qualidade (seria bom fazer uso de ambos se possível); b) Atribuir uma causa falaciosa a geração atual "geração das telas", como o possível problema. Sendo que gerações anteriores relatavam os mesmos sofrimentos com o transtorno, além de ser um transtorno que pode ser hereditário (genético), neste caso não tendo muito haver com o meio no qual a pessoa foi exposta; e c) Culpabilizando a pessoa com o transtorno por estar "impedindo" (como se isso fosse possível ou controlável) o estimulo de chegar ao cérebro e ao invés de lidar com isso, está "fugindo" da situação.
Além disso coloca-se determinadas ''terapias'', a exemplo daquelas que repetem termos clichês como ''crenças limitantes'' e listas de metas, como A SOLUÇÃO para a pessoa com tal transtorno, fazendo-a acreditar que estará ''curada'' depois que ela se reconectar com o "eu" dela novamente... Isso não é nenhum pouco diferente de charlatanismos religiosos da cura de câncer ou "cirurgias na alma" em templos místicos que ficam geralmente numa esquina muito estranha no centro da cidade (quase na maioria das vezes essas "cirurgias" matam as pessoas).
Medicamentos como o Concerta não é uma metanfetamina, o princípio é literalmente o mesmo da Ritalina, que é o Metilfenidato, a única diferença é que a dose é maior, porém a capsula possui uma tecnologia de liberação lenta, segundo que o metilfenidato tem níveis mínimos de vício (se consumido da forma correta e por por quem realmente tem TDAH). A medicação que tem formulação similar é o Venvanse, mas ele é formulado com L-lisina justamente para diminuir esse aspecto viciante e um médico competente deve saber disso. TDAH é uma condição fisiológica crônica, ou seja não há cura, até porque não é propriamente uma doença. Imagina um médico que diz a um paciente diabético tipo 2 (que é assim como o TDAH é uma condição hormonal, porém doença, numa comparação bem redutível) que ele não vai poder mais receitar uma determinada medicação já que o paciente pode reverter a diabetes mudando o estilo de vida, fazendo exercícios e com dieta? Pode ocorrer 'desmame'' de medicação? Sim, mas não pode ser feito de qualquer jeito, apenas porque se sente ''curado'' ou porque tem cumprido e triplicado todas as metas do coach.
Quem é diagnosticado com TDAH na idade adulta e hoje toma medicamentos, sente o quanto esses medicamentos teriam auxiliado positivamente na vida escolar durante a infância e a adolescência, marcada de muitas frustrações relacionadas principalmente ao desempenho escolar. Existe todo um contexto de "o que está por trás de cada doença'', mas realmente há estudos científicos comprovando uma diferenciação do cérebro de pessoas com e sem TDAH.
Por mais que se tenha um privilegio em fazer consultas psiquiátricas e bancar medicações (sendo que hoje em dia está mais acessível) aquele que escolhe se abster e levantam bandeiras contra os medicamentos possuem o privilégio do tempo e da sorte; tempo das ''terapias'' alternativas, tempo para tantas meditações em pose de lótus, tempo para se abster, e realizar seu "descobrimento pessoal" (muitas vezes o famoso ''good vibes'') e cumprir uma lista interminável de metas exigidas pelos coaches (muitos deles com crp). Porém infelizmente muita gente não tem esse tempo, tem que trabalhar muito, sustentar a família ou em casos pessoais mais complicados, precisa se tornar financeiramente independente de alguma ''família'' tóxica o mais rápido possível, estudar (ou ter que virar ''concurseiro'' como manda a regra há mais de uma década) e o processo de ''descobrimento interior'' acaba ficando de lado.
Tenham cuidado com esses tipos de "especialista" que alega que a própria área é a solução para todos os seus problemas e que infelizmente estão faturando alto com isso. Não considerem tudo que essas pessoas dizem só porque é uma "autoridade" no assunto ou no local terapêutico, ou é um professor da USP (universidade estatal no Brasil), YALE (universidade particular da liga Yve nos EUA), ou sei lá o que... Questionem esse tipo de gente e pesquise o argumento contrario, para ver se o outro argumento mágico se sustenta mesmo. Se você tem suspeitas de que tenha o transtorno, busque uma consulta com um neurologista ou psiquiatra para confirmar ou não o diagnóstico, de preferência um especialista que não seja arrogante e nem venda solução para tudo. Tomar medicação não significa que será dependente dele, muito menos a vida inteira e que um dia não possa abrir mão da medicação quando as coisas estiverem mais acertadas, equilibradas e encontrado um alcance maior sobre as dificuldades do TDAH.
O ideal seria unir esses dois mundos, o mundo da medicação e o mundo das psicoterapias. Dentro da psicologia e da psicanálise não devemos culpar as pessoas que buscam o método mais eficaz a curto prazo no início do tratamento, até como uma questão de emergência, ainda mais porque devemos ser compreensivos e empáticos com as questões sociais e pessoais envolvidas. Nem tudo se resolve com listas de metas e ''esforço individual'' sem freios. Tempo é dinheiro, e devemos respeitar as decisões dos outros até terem condições, sejam psicológicas e sejam financeiras para alcançar esse ''auto conhecimento'' tão desejado.
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