TDAH e ''psicoaches''

Há psicólogos (com graduação, pós graduação, CRP e tudo), com ares de coach, que começaram a se propagar como ''especializados'' em TDAH. São pessoas que não compreendem os detalhes do TDAH e lançam publicações ofensivas como ''desperte seu superpoder, use o seu cérebro''. A pessoa não é criativa porque tem TDAH, ela é uma pessoa criativa e tem TDAH. A pessoa não é mais inteligente porque tem TDAH, ela é inteligente e tem TDAH. 


Entende-se que algumas pessoas querem ver o lado bom de tudo, mas isso é invalidação do sofrimento de muitas outras pessoas. Uma coisa é aceitar as limitações, outra é alguém falando que quem é TDAH teria ''super poderes'' se quisesse, quando isso é totalmente irreal. O treino de funções executivas é para as pessoas conseguirem viver bem apesar do TDAH, não tem nada a ver com superpoderes.

Pior ainda quando aparecem com aquela ideia de que ''você só não supera porque não quer''. Infelizmente o TDAH tem sido citadíssimo atualmente por marketeiros que vendem cursos e mentorias como um bom "nicho" para psicólogos e terapeutas em geral "investirem", por estar ~em alta~ no momento. Tem muita gente gananciosa querendo lucrar e que não se importa com ética ou qualidade de trabalho, daí começam se anunciarem experts em assuntos que não entendem e compreendem. Infelizmente de vez em quando surgem coisas que ficam em voga e muito faladas e daí surgem os ''especialistas'' milagrosos.

Transtornos como ansiedade foram os assuntos do momento antes, coisas das quais todo mundo falava e gerava engajamento, daí vinham os gananciosos querendo lucrar com o "nicho". TDAH é a "coisa" do momento, vendido como algo que ''traz'' muitas vantagens (?). O que mais ofende é que é um distúrbio que gera muitos problemas na vida de uma pessoa. Um ou outro caso de sucesso não transforma o TDAH em um superpoder, mas sim informa que essa pessoa teve uma vida com uma rede de apoio e suporte que entendeu as suas necessidades. E, mesmo quando estamos falando de uma pessoa com TDAH que é bem sucedida, não estamos considerando o quanto estresse e ansiedade constante ela suporta em silêncio. Infelizmente, o Burnout é uma realidade para muitos com TDAH. 

Outra característica, o hiper foco, tem sido vendido como superpoder, sendo que não é nada disso, se algo te faz esquecer de comer, ir ao banheiro escovar os dentes e destrói a sua capacidade de ter uma boa noite de sono, não é uma ''vantagem''. O que mais tem em todo mundo são sites, blogs, páginas, grupos, etc. que vendem mentiras de que TDAH é obrigatoriamente alguém com ''superpoderes'' e com isso atraindo pessoas pretensiosas, presunçosas e prepotentes que não tem TDAH, mas que gostam desse ''glamour'' artificial e megalomaníaco.  


Esses ''psicoaches'' que promovem o hiper foco como algo bom estão sendo irresponsáveis, quando na realidade o hiper foco é algo que deve ser trabalhado para as pessoas terem uma vida mais balanceada, equilibrada e produtiva...e não vamos falar dos hiper focos sem noção, por exemplo, catalogar as roupas por cor em vez de fazer um relatório para o seu trabalho ou faculdade ou perder tempo estudando como castores constroem pontes com gravetos e por aí vai. Se as pessoas com TDAH pudessem controlar seu hiper foco para se tornarem as maiores ''concurseiras'' do Brasil e colecionadoras de títulos acadêmicos, não seriam TDAH. 

O TDAH hoje está para o autismo uns tempos atrás, mitificaram demais o autismo como ''genialidade'' e coisas do tipo e até foi explorado em séries de tv, geralmente com personagens homens como ''autistas super heróis'' e muitas vezes são personagens um tanto ególatras, arrogantes e até com umas características de narcisistas, sempre se auto vangloriando sobre seu sucesso acadêmico, profissional, financeiro e que possuem uma rede de bajuladores tanto na ficção quanto fora das telas e que algumas vezes são também obcecados por ''almas gêmeas'' que teriam o seu mesmo patamar de ''genialidade''.

Com o TDAH estão fazendo a mesma coisa, hoje tem vários perfis fakes de todo o mundo pelas redes sociais se auto intitulando TDAH (e às vezes dizendo que também é TEA) se autodeclarando como suposto ''gênio'' com QI super elevado e que sabe tudo, faz tudo, foi aprovado em dezenas de concursos públicos (no caso do Brasil) disputados, etc., que é o ''máximo dos máximos''. Assim como também tem muita ''mãe'' de supostos TEA/TDAH afirmando que o filho dela seria ''o maior gênio que esse universo já conheceu''.

Tem psicólogo com pós na área comportamental e tcc, crp ativo e tudo mais, atuando como coach na surdina e ganhando fortunas com isso, repetindo as frases de auto-ajuda daquela franquia ''o segredo''. Como a maioria das pessoas não costumam pesquisar muito sobre como seria a diferença da atuação de um psicólogo e de um coach, acaba caindo no golpe e muitas vezes se sentindo um lixo depois das sessões enquanto sonha em se tornar um ególatra cheio de arrogância que ''dominará o universo''. 

Quanto aos medicamentos, não se deve nem banalizar seu uso e nem condenar seu uso, o medicamento é o pilar central no tratamento do TDAH, é eficaz no auxílio aos sintomas. Fora isso, tudo o que lhe for útil é... útil. Não é toda ferramenta, técnica, rotina ou seja lá o que for que você vai experimentar durante a vida que vai ser efetivo pra você (E isso serve pra todo mundo, neurodivergentes ou não). Num mundo ideal ninguém precisaria mudar nada pra conseguir ter uma vida digna e feliz, mas esse não é o caso. Pessoas com TDAH que não buscam tratamento podem se ver numa vida tranquila OU completamente desestruturada, dependendo das suas condições mentais, sociais, etc., então não faz muito sentido determinar o que se deve ou não ser feito para todo mundo.

De qualquer maneira, é importante ressaltar que o medicamento é sim a principal ferramenta para auxiliar a melhoria (se quiser entender como melhoria o comportamento "comum" diante das atividades cotidianas, por exemplo), e parece contraproducente desestimular a busca por mudança de hábitos e uso de medicação adequada. Em suas jornadas, quem tem TDAH enfrenta várias adversidades das quais não tem a menor noção de como transpassá-las e, só com medicamento, mudança de hábitos e conhecimento é que se tem conseguido agir de uma maneira próxima a que gostaria, a um equilíbrio.

Outro grande erro é alguns médicos/psicólogos afirmarem que pessoas com TDAH não podem ter outras comorbidades, outros problemas de saúde. Se por exemplo uma pessoa tem uma enxaqueca, tem médico descartando o TDAH nessa pessoa, alegando que seu déficit de atenção seria exclusivamente da enxaqueca. E sim, é possível ter TDAH e outros diversos problemas de saúde que podem agravar as dificuldades características que já são apresentadas com o TDAH. Tem médicos/psicólogos alegando que TDAH seria uma questão de ''acreditar'' ter ou não ter. 


No decorrer da jornada, com um bom acompanhamento, cabe a cada um decidir o que é melhor para si, dentro de suas possibilidades. Muitas pessoas com TDAH preferem gastar as suas energias na tentativa de melhorar seu desempenho e se adaptar ao que é real através de suportes do que pertencer sofrendo por querer estar numa eterna competição de quem é o TDAH mais ''gênio'', de quem tem o QI mais alto, etc. Se alguém estivesse confortável onde estava, com certeza ficaria por lá.




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